Relato de um morador a Francesco Reale que por sua vez escreveu em sua agenda o acontecido.
22 de Outubro de 1931, em frente a Mercearia Marieta, 09:56 pm.
O amanhecer cívico. Em frente a estação ferroviária. Saindo de um bar... rasgando a camiseta, ele gritou: Essa é a Prostituta dos Campos Gerais (Le Prostituta dos Campos Generales). De logo, um tiro fora escutado, todos se alopraram correndo, se jogaram ao chão, enquanto aquela carcaça fétida de Vodka podre (Kislla) se atolava no barro ao lado de um dos trilhos.
Aquela morte logo fazia sentido, um curitibano, ali procurava emprego e por não ter conseguido resolveu se absorver um líquido da mais pobre fermentação produzida e blasfemar contra Ponta Grossa. Seu estorvo foi no bar, falou alto demais numa Terra Civilizada (Terra Civilizzata). A rivalidade se pintava nas cores daquele sangue carcamano que escorria e se exalava no mal hálito dos seres que discursavam em cima de uma suposta razão da ação praticada.
Um velhote com uma camisa mal-abotoada, com um chapéu de palha e uma galinha embaixo do braço passa em frente ao corredor dos vagões e grita: "Que qué isso Meu Deus?!" e sai correndo.
O comércio todo logo fechou enquanto apitava uma Maria Fumaça, antes mesmo de aquele defunto exalar sua podridão pelos arredores. A polícia logo apareceu questionando e fazendo o inquérito. Seu Elias, proprietário daquele insalubre estabelecimento carnicento, português daquelas quebradas, assumiu de peito aberto. Não fora preso, comerciante aqui é valorizado (valorizzato), o sindicato protege, né?!
Enquanto descobriram que o mau da história estava esborrachado ao leito do progresso, a patrulha apagou o inquérito dizendo que não estavam em defesa de vagabundos de fora. "O seu Elias tá certo", "Nada de gente de fora por essas bandas", "O povo de Curitiba não é ordeiro", "Brasil!!!"... Esses foram os dizeres naquele pestanejar de manhã, reproduziam a exacerbação enquanto eu escutava as portas dos "Secos & Molhados" abrindo, a procura de justiça enflamada pela espada na mão da Estátua da Liberdade!
Prostituta?! Tudo aquilo contra uma palavra pronunciada em meio àqueles dentes amarelados e aqueles bolsões de pus nos lábios, um discurso regionalista, pautado na ordem e não no caos alheio vindo dos lados de Curitiba. a Ordem se estabelecia enquanto o varredor municipal vinha com a carroça rabecão para desovar o corpo num dos potreiros do Coronel Munhoz, uma esbórnia.
Vazaram na braquiara alguns pivetes engraxates, os patrulheiros do quarteirão abandonaram aquela mancha de sangue fedendo escroto alcoólico para promover a ordem contra a juventude transviada que trafegava arruaceiramente, desordenadamente, brincando e fazendo das ruas daquela cidade um verdadeiro recreio. Naquele dia, eu vi, meio a tudo que ocorreu, a Estação parou quinze minutos enquanto exalavam os pinheiros naquela primavera...
*Esse relato é inspirado em boletins de ocorrência encontrados no Acervo do Laboratório do Bloco de História.
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