Não sei nem o nome da rua. Minhas lembranças dalí foram outras.
Mas os leitores irão reconhecer. Trata-se de uma zona em que muitas zonas habitavam. Era quase um país. E alí o povo tinha diversão. Podem chamar de puteiro, eu chamo de boteco do prazer. Não importa - nem a mim nem a elas - se alguém não gostava, se escandalizava, se sentia violentado: se alguém não gozava.
Elizete trancava meus membros inferiores - todos os três - com suas cochas moles e seu suíngue. Sua pele enrugada, sua boca de boquete, seu cabelo oleoso, e o cheiro ruim que estava no ar até me excitavam. E eu pedia mais uma dose, enquanto do outro lado, do lado de fora, as pessoas fingiam que suas genitálias não estavam em chamas. É claro que estavam. Mas eram saciadas de outra forma: no aconchego de seus lares. Eu não. Eu e muitos outros - viajantes, gente que acabara de sair dum trem e já vinha correndo para dar uma bimbada; pais de família. Alí acontecia a revolução. Mas ao sair da porta da boate, as vidas continuavam as mesmas. O desejo voltava à normalidade, as hipocrisias também. As mentiras eram as mesmas, os preconceitos. O ódio pelas vagabundas. Mas naqueles momentos mágicos, no frenesi de uma cavalgada gloriosa, numa corrida profissional, a vida era outra. Naqueles momentos as classes eram duas: pênis e vagina. E, olhem só que ironia! Estavam em harmonia...
Voltando para a cama das esposas, os honestos e polidos cidadãos de nossa cara cidade davam um beijo de boa noite na testa das amadas, e estas pensavam caladas "cheiro de trepada". O sono daquele momento era o sono dos inocentes. O sono dos que fizeram a revolução. Aqueles que, agora, no leito conjugal, dormiam da forma mais civilizada. A selvageria estava lá fora. A selvageria estava lá dentro: dentro dos botecos do prazer.
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
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